terça-feira, 16 de março de 2010

A salvadora do Oscar

O Oscar 2010 inovou em alguns aspectos. E repetiu erros de cerimônias anteriores, prática esta que o levou a um baixo grau de respeitabilidade perante o público ao longo dos últimos anos.Porém, entre pontos positivos e negativos, confirmou-se uma tendência da década: a Academia que comanda o Oscar mudou alguns conceitos e critérios para a escolha dos vencedores.

Prometi que se a mega-produção Avatar vencesse o prêmio de melhor filme, o título deste artigo seria "Guerra ao Oscar". Mas, felizmente, o vencedor foi o filme que retrata, com sensibilidade e muita pressão psicológica, os horrores que uma guerra pode acarretar. O arrasa-quarteirões que contava a história de seres azuis e que tem uma mensagem ecologicamente correta para todas as gerações é de fato um bom filme. Mas Guerra ao Terror, além de ter sido a salvação de Hollywood, é mais filme mesmo.

Mas o longa que trata sobre os desarmadores de bomba e o clima tenso no Iraque só venceu graças ao novo modo da Academia de premiar os melhores filmes do ano anterior. Tendência que, por coincidência ou não, iniciou-se após os atentados de 11 de Setembro de 2001. Antes das tragédias que acertaram os corações norte-americanos, um festival de injustiças tomava conta do Oscar, como não premiarem artistas como Peter Sellers e sua performance em Dr. Fantástico, Fernanda Montenegro por Central do Brasil, entre outros.

Foi só após os atentados que a Academia passou a enxergar o mundo de outra forma, e com isso, premiar ou com a estatueta, ou com indicações ao prêmio, aqueles que eram melhores de fato. Somente assim para explicar o porquê de Chicago em 2002 e Crash-No Limite em 2005, vencerem na principal categoria do Oscar, algo que dificilmente aconteceria na década de 1990 para trás, mesmo ambos os filmes serem muito bons. E é válido para atores e atrizes também.

Outra injustiça reparada na cerimônia deste ano foi o prêmio de direção a uma mulher: Kathryn Bigelow. Prêmio mais que merecido, uma vez que o seu jeito de conduzir a trama de Guerra ao Terror foi quase que impecável, aliando, a cada cena, adrenalina com um jogo psicológico assustador para o espectador. Mais que merecido o prêmio, vingando anos e anos onde só homens triunfaram.

Jeff Bridges finalmente venceu o Oscar de melhor ator, por sua atuação em Coração Louco. Já era tempo de um prêmio deste porte para um ator competente, que nos presenteou com boas atuações como em O Pescador de Ilusões e O Grande Lebowski ao longo dos anos. Sandra Bullock faturou a estatueta de melhor atriz por Um Sonho Possível. Interessante, pois é uma figura muito querida em Hollywood e também entre o público. Oscars de melhor ator e atriz coadjuvante, Christoph Waltz e Mo'Nique eram barbadas. Mais que merecido os prêmios a eles. Bem como a consagração de Up-Altas Aventuras na categoria animação.

Surpresas foram três: a ótima performance de Preciosa-Uma História de Esperança, que além de Mo'Nique, levou roteiro original, e o pífio desempenho de Avatar, que levou 3 prêmios, o mais importante o de fotografia. Mas a decepção do Oscar 2010 foi Amor sem Escalas, sem nenhuma estatueta na noite. E no placar dos adversários, Brasil zero, Argentina um: melhor filme estrangeiro para O Segredo do seus Olhos, do bom Juan José Campanella, porque foi um filme feito para o público em primeiro lugar, e não para tentar agradar a Academia, erro este cometido por produções brasileiras há anos.

O ponto alto da cerimônia foi a homenagem ao diretor John Hughes, que faleceu em 2009, e que tratou da adolescência como nenhum outro diretor na história. Responsável por novos clássicos como Curtindo a Vida Adoidado, Os Garotos Perdidos, e a comédia de maior sucesso em bilheteria de todos os tempos, Esqueceram de Mim, Hughes recebeu uma homenagem digna de sua competência. O ponto baixo foi o tratamento dado pela Academia à grande estrela Lauren Bacall, fazendo uma homenagem mais que justa, porém, não deixando-a discursar.

Steve Martin e Alec Baldwin saíram-se bem como mestre de cerimônias. A Academia cortou os números musicais, para o bem de quase todos os que acompanharam a cerimônia. Mas pecou ao alongar a apresentação dos indicados a atores e atrizes principais ou coadjuvantes. Desnecessário também foi a indicação de 10 filmes a melhor do ano, uma vez que a disputa polarizou-se entre Guerra ao Terror
e Avatar. Mas a tendência é que nas próximas cerimônias do Oscar o público volte a se interessar por ele. Parabéns a Katrhyn Bigelow e à sua guerra que salvou o cinema.

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