sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Estreia: Simplesmente Complicado

Merly Streep e Alec Baldwin estão de caso?!?

Nancy Meyers a cada direção ganha pontos de minha admiração. Tem a capacidade de escrever e dirigir boas histórias 'simples' e 'normais' para transformá-las em momentos mais do que agradavéis na poltrona de casa (ou cinema).

Assim foi com 'Do Que as Mulheres Gostam' (What Women Want), 'O Amor não Tira Férias' (The Holiday) e 'Alguém Tem Que Ceder' (Something's Gotta Give). Sendo o primeiro somente dirigido. Todos discutem relacionamento - homem e mulher, familiar, amizade - de maneira única. Não porque sai do comum, mas, pelo contrário, porque são mais realistas.

Entretanto, a realidade de Nancy é diferente, pois, consegue mostrar as várias graças da vida. Pense, quantas vezes não deu risada daquela situação que na hora não foi tão ilária?! A vida é assim mesmo, nos faz rir e chorar de uma mesma questão. Nancy ainda transforma a 'briga dos sexos' em uma briga mais elegante, inteligente e, incrivelmente divertida.

'Simplesmente Complicado' (It´s Complicated) segue a mesma linha. E, assim como em 'Alguém Tem Que Ceder' valoriza a vida dos mais adultos, mostrando, que não estamos envelhecendo e morrendo. Apenas, amadurecendo para viver mais e mais.


O seu marido, é meu ex e meu amante...

Meryl Streep ( a Jane) está, novamente, incrível em sua atuação. Entretanto, vale ressaltar que todos os personagens estão bem desenvolvidos. Desde o pentelho enteado, o genro até o arquiteto. De certa forma, o filme consegue valorizar todos os presentes neste enredo. O trio da ex-mulher (amante), amante (ex-marido) e arquiteto (novo namorado) rende boas gargalhadas.

Uma comédia romântica inteligente. Lida com vários assuntos polêmicos, em uma tacada só, sem perder o senso de humor. Também deixará aquelas que foram 'largadas pelas de 20' com a auto-estima nas alturas.

O caminhar, musicalmente bem acompanhado, mostra que é complicado, de fato, contudo pode ser divertido, surpreendente e único. O importante é continuar vivendo.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O Anticristo

Nietzsche anunciou, "Deus está morto". A era do Anticristo é agora. Sua visão niilista do mundo deixou muita gente atônita. Seu pessimismo, notável, perante a humanidade, traçou novos rumos na filosofia contemporânea. Mas isso foi no século XIX, há muito tempo e muita coisa mudou.

Hoje, Lars Von Trier anuncia, "Deus está morto". Lars matou Deus e arrastou todos para o inferno do Éden. "O Anticristo" de Lars não é uma obra que irá traçar novos rumos no cinema, mas com certeza pode-se dizer que é tão impactante quanto o livro de Nietzsche.

Não é um filme fácil, muito menos agradável, é tenso, pesado, chocante, mas, ainda sim, belíssimo. Já começa com um prólogo lindíssimo, em preto e branco, em câmera lenta, abarrotado de simbologias. A água caindo no rosto da esposa, a babá eletrônica no mudo, os três soldados de chumbo sobre a mesa, a garrafa de uísque sendo derramada, a janela se abrindo, o filho jogando os soldados de chumbo no chão, o ursinho amarrado no balão, etc. O prólogo te conta tudo.

Mas aí a coisa fica mais pesada. Lars te leva para o Éden, onde os humanos fazem o inferno, como dois anjos caídos tentando redimirem-se de seus erros. É a natureza do homem - e da mulher - carregar o inferno da existência. A dor, o sofrimento, e o luto, carregam o filme. A esposa, interpretada por Charlotte Gainsburg, passa por estes três estágios após a trágica morte de seu filho. Seu marido, interpretado por Willem Dafoe, um psicanalista, tenta tratar sua mulher e ajuda-la a passar por estes estágios. Para isso, eles vão para o Éden, uma floresta onde existe uma cabana onde a esposa passou um tempo estudando a natureza da mulher. E é para lá que ela volta, não para estudar a sua natureza, mas para vive-la. E aí o inferno reina.

Na tentativa frustrada de tentar ajudar a esposa, ele vê sua mulher transformando-se em algo que nega a natureza, toda a natureza, a dela, a dele, e a natureza em si. "A árvore apodrece lentamente", ela diz, como todos nós apodrecemos aos poucos até o inevitável fim. Ora ela ama, ora ela odeia, ora ela sorri, ora ela chora, ora ela expõe seu ódio. As imperfeições do humano estão todas lá, explícitas e chocantes. Fazer sexo para fugir da dor, fazer sexo para fugir do sofrimento, fazer sexo para fugir do luto, fazer sexo para fugir do sexo, o seu próprio sexo, deixar de ser mulher ou homem. As cenas com mutilações genitais chocam, mas ali mostra a vontade dela de não ser mais quem é, nem a vontade de ver seu marido ser quem é. Para ela, ele deixou de ser homem, e ela deixou de ser mulher. No Éden ninguém é homem ou mulher, como anjos, assexuados, anjos caídos, malditos, presos em corpos humanos, carregados de dor, sofrimento e luto.

Até que os três mendigos chegam. Diferente dos três Reis Magos que trazem presentes para o novo salvador, os três mendigos trazem a morte. Lembra-se dos três soldados de chumbo que o filho derruba no começo do filme? Cada soldado tinha um nome: Dor, Sofrimento e Luto. Os três mendigos trouxeram o presente para o filho: A morte inevitável. A morte enquanto os pais faziam sexo. O alfa e o ômega. O início (sexo) e o fim (morte). Essa é a imagem que Lars - um ateu - tem de Deus.

Um filme para poucos. Há muito romantismo na obra. Mas não é qualquer um que aguenta esse romantismo.

It's a bingo!

Existem alguns diretores que gostam de tentar mudar o mundo e fazer o espectador pensar. Tarantino não quer tentar salvar o mundo, mas te faz pensar sobre tudo o que você acabou de ver, experimentar, viver. Tarantino não te mostra nada novo, nem tenta reinventar a roda. Ele te dá tudo aquilo que você sempre quis, mas que você nem conseguia imaginar como ficaria. Uma explosão de clichês cinematográficos que, nas mãos dele, tornam-se uma obra-prima.

Tarantino é um maníaco por cinema. Bastardos Inglórios, acima de tudo, é um filme para cinéfilos, incrivelmente cinematográfico. Ele busca em Sergio Leone a inspiração para as cenas de conflito, a tensão e os ângulos, e até a trilha sonora (Ennio Morricone, eterno parceiro de Sergio Leone, participa da trilha sonora de Bastardos). Em Truffaut e Godard ele busca o estilo Nouvelle Vague para a personagem de Shosanna (interpretada por Mélanie Laurent) e seu cinema na Paris dos anos 40. De Hitchcock, o cigarro é apagado no apfelstrudel (referência a Ladrão de Casaca). Dos filmes de guerra saiu a inspiração para o nome da personagem de Brad Pitt, o Tenente Aldo Raine. É a mistura dos nomes de dois atores que ficaram famosos interpretando caras durões em filmes de guerra, Aldo Ray e John Wayne. De um filme italiano de Macaroni Combat, do diretor Enzo Castellari, o título (o italiano se chama Inglorious Bastards, enquanto o de Tarantino, Inglourious Basterds, com os erros mesmo). Tarantino explicou que fez essas “mudanças” para não pensarem que seu filme é uma refilmagem do italiano.

Dividindo o filme em capítulos (e aqui cabe dizer, respeitando a linearidade dos fatos, porque Tarantino sempre gostou de fazer seus filmes fora de ordem), como um livro, a história se desenvolve de forma tensa e marcante até chegar em seu clímax absurdo. A habilidade de Tarantino em apresentar as personagens de forma caricata ajuda no desenvolvimento da trama, pois logo de cara identificamos quem é quem no filme (o americano caipira, a francesa indiferente, os nazistas pomposos). E na apresentação da primeira personagem já deparamos com algo que Tarantino sabe fazer muito bem, os diálogos. Em Cães de Aluguel é discutida a música Like a Virgin de Madonna; em Pulp Fiction discutem o nome do “quarteirão com queijo” em outros países; em Kill Bill discutem sobre a verdadeira identidade do Super-Homem e que, na verdade, Clark Kent é o seu alter-ego; em Bastardos Inglórios é discutida a repulsa humana por ratos e a indiferença por esquilos, usando este argumento para justificar o ódio dos nazistas pelos judeus na concepção da personagem Hans Landa (interpretado por Christoph Waltz), o nazista que todo mundo odeia amar. Sim, Tarantino te faz amar um nazista.

A vingança é o que move Tarantino. A primeira coisa que vemos na tela, em Kill Bill, é o provérbio Klingon (Tarantino é nerd) “a vingança é um prato melhor servido frio”. Em Bastardos Inglórios a vingança é um absurdo. É uma vingança histórica fora da realidade humana. Tarantino tomou a liberdade de jogar para o alto a história da humanidade e fez o que todo mundo gostaria de ter feito na época: matar Hitler. Tarantino fez o que nenhum cineasta ousou fazer, tirou a estigma de coitados dos judeus e os transformou em frios vingadores, que saem pela França matando nazistas à pauladas, marcando os sobreviventes, como sofreram os judeus na verdadeira Segunda Guerra. E aí podemos dizer então, que sim, há algo de novo em Bastardos Inglórios, afinal. É o inesperado que Tarantino gosta de usar. E o inesperado aqui é muito mais forte porque, em um filme sobre a Segunda Guerra, ninguém espera que Hitler seja assassinado. E Hitler é morto por um bando de soldados americanos judeus que se fingem de italianos. O absurdo de Tarantino é sempre constante. Um filme que se passa na França, praticamente inteiro falado em francês e alemão, onde o nazista começa a falar inglês não para agradar o público americano que odeia legendas, mas porque os judeus escondidos na casa do fazendeiro não entendem inglês.

São as sutilezas que fazem o filme marcante. A forma como a vingança é feita, referência à forma como muitos judeus foram mortos nos campos de concentração. Shosanna se maquiando para a première, que é uma referência às mulheres judias que usavam pinturas de guerra nos rostos para lutar contra os soldados nazistas nos campos de concentração. Um velho decadente sentado ao piano, fumando e bebendo, uma referência ao Primeiro Ministro inglês Winston Churchill. A verdadeira Segunda Guerra pulsa na fantasia de Tarantino.

Pode não ser a obra-prima de Tarantino, mas não podemos deixar de falar que é um excelente filme. Depois desta orgia cinematográfica só conseguimos pensar numa frase que Tarantino disse certa vez, “eu adoro foder com os espectadores. Fazê-los pensarem em tudo o que viram”. Nos fodeu, mesmo.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O carro vermelho

É só mais um blog sobre cinema. Quem souber o porquê do nome, conta aí.