sexta-feira, 30 de julho de 2010

O olhar da sobrevivência

Uma homenagem à vida. Este é o ponto de partida de um dos melhores filmes dos anos 2000, o francês O Escafandro e a Borboleta. A princípio, quem lê o título e tenta o interpretar acaba pensando que se trata de algum romance envolvendo um casal apaixonado às margens do Rio Sena. Mas, pelo contrário, o filme é uma oportunidade das pessoas poderem repensar alguns conceitos de suas vidas, bem como começar a aproveitar cada momento que se tem para respirar.

O Escafandro e a Borboleta é baseado em uma história real. O editor da famosa revista Elle Jean-Dominique Bauby é um homem bem-sucedido, pai de 3 filhos, e que está em uma idade na qual a vida já lhe proporcionou diversas alegrias, mas ainda tem muito a aproveitar. Porém, em um passeio com um de seus filhos, Bauby é acometido por um Acidente Vascular Cerebral (AVC), o que o deixa paralítico da cabeça aos pés.

Mas esse derrame cerebral trouxe outro agravante para o editor, que acaba se tornando vítima de uma síndrome chamada locked in, deixando um único órgão de seu corpo em funcionalidade apenas: o seu olho esquerdo. A comunicação dele com o resto do mundo passa a ser esse olho, uma vez que Bauby está refém de seu próprio corpo. Ele entende tudo o que se passa a seu redor, todavia, só consegue se expressar através de piscadas, formando assim, sílabas, frases, e parágrafos.

Dessa forma, o editor consegue escrever um livro contando os relatos e impressões, tudo o que o editor sente na situação em que está. A partir do livro homônimo, o diretor do filme Julian Schnabel leva o espectador ao mundo do editor após o acidente, nos colocando dentro do olhar de Bauby. As cenas com a câmera subjetiva que Schnabel filma é extraordinária, mostrando toda a amargura e inoperância que o protagonista sente no exato momento em que sai do estado de coma em que ficara por conta do AVC até o momento das primeiras comunicações com o mundo externo.

Com essa visão, o mergulho em um mundo diferente do que se está acostumado é inevitável. Uma chance de poder sentir como vivem as pessoas com algum tipo de deficiência, sempre exaltando o quão importante é aproveitar as chances e oportunidades que a vida traz. O filme trata de um assunto delicado, mas sem ter um mínimo de pieguice; não cai no clichê dramático de outras produções, que visam mais as lágrimas das pessoas com corações sensíveis do que propriamente a reflexão que a causa exige.

Destaques para as atuações de Emmanuelle Seigner, Anne Consigny, do protagonista do longa-metragem Mathieu Amalrick, e do maravilhoso Max Von Sydow, que faz uma pequena participação como o pai de Bauby. O Escafandro e a Borboleta é um filme forte, mas imprescindível para os cinéfilos de plantão.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O Bem-Amado

O filme O Bem-Amado não poderia estreiar em melhor época, ano de eleição. É preciso rir um pouco ante as tantas movimentações políticas. Para compreender, ludicamente, que 'em política não há certezas'.

O filme é fantástico. As atuações são exemplares, desde o bêbado até o prefeito que pensa 'prafrentemente'. A escolha do elenco não poderia ser melhor. Marco Nanini (Prefeito Odorico), mostra que pode se desvincular, facilmente, de seu eterno personagem Lineu (A Grande Família). As meninas Zezé Polessa, Drica Moraes e Adriana Beltrão dão um show à parte, Drica Moraes então, mais uma vez mostra seu talento de ponta (lembram de Os Aspones?!). José Wilker impressiona na pele do temeroso Zé Diabo, mais honesto que o prefeito, que coisa não?!

Brilhante como a história consegue ser construída sem buracos, o que não era de
se esperar, por ser uma adaptação. Para os que, como eu, não tiveram contato com o prefeito Odorico das décadas de 70-80, vale à pena conhecê-lo. Inteligente aproximação com a realidade atual, que, ironicamente, parece não ter mudado muito.

Ótimo e, corajoso, trabalho crítico com relação a participação da imprensa na vida pública. Até que ponto seu envolvimento é parcial?! Ou, onde não há a 'desapropriação do capital burguês', de acordo com interesses. Será que sua função tem sido puramente anunciar ou, manipular?!

Excelente pedida para quem não gosta muito de discutir política, ou, acredita não ter mais pelo que lutar. Apresenta a política como é, uma sátira completa, envolvente e, talvez, que possa cutucar aqueles que já cansaram dos políticos 'bifaciais'.

É preciso estômago para lidar com nossa política, porém, mais do que isso, é
preciso senso de humor. Talvez, desta forma possamos nos envolver de maneira mais crítica, de quebra, nos divertimos. Além de compreender vários comportamentos, como o porquê do superfaturamento ou, as 'consequências hemorragicas' presentes em nossa história.

O Bem-Amado é patriota. De trilha sonora rica e envolvente. Garantia de gargalhada inteligente e consciente. Uma crítica brilhante.


segunda-feira, 5 de julho de 2010

THX 1138


Em 1967 George Lucas se formou em Cinema na U.S.C. em Hollywood. Nesse mesmo ano ele apresentou num festival de curtas de estudantes seu primeiro curta-metragem, um sci-fi misterioso chamado "THX 1138". Naquele mesmo ano, um outro aluno de cinema - mas da UCLA -, um garoto barbudo, chamado Francis Ford Coppola, tinha a ideia de criar uma empresa para financiar seus filmes e filmes de outros jovens diretores, para saírem da mesmice de Hollywood. Aí, em parceria com George Lucas, fundaram a American Zoetrope. A American Zoetrope foi a primeira produtora de filmes fora do eixo de Hollywood, sua base era São Francisco. Dizem até, que Coppola foi o primeiro presidente de uma empresa a instalar uma máquina de cappuccino para os funcionários e colocar uma mesa de bilhar para recreação. Isso era 1968, imagine.

Pois enfim, em 1971 a American Zoetrope lança seu primeiro filme: THX 1138. Calma, lembre-se que George Lucas fez apenas um curta-metragem para a faculdade. Em 1971 ele lançou o longa-metragem. Vejam como eram as coisas naquela época: o primeiro filme de um ilustre desconhecido, produzido por Coppola e estrelado por Robert Duvall. Vá lá, naquela época Coppola ainda não era o que é hoje. Mas foi nessa mesma época que ele fez O Poderoso Chefão, e já tinha em mãos o roteiro de Apocalypse Now - que, pra quem não sabe, originalmente era um projeto da American Zoetrope para o George Lucas dirigir.

Mas voltemos a THX 1138. É um filme misterioso. O filme se passa não se sabe onde, nem em qual ano, só percebemos que é num futuro. Nenhum personagem tem nome, THX 1138 é o "nome" do personagem interpretado por Robert Duvall. THX 1138 trabalha numa linha de produção de andróides. A vida de todos nessa "base" é formada através de cálculos. Não há romance, há cálculos, é a matemática quem decide quem deve morar junto com você. Não há sexo desnecessário. Todos são controlados com remédios. O filme não detalha muito o regime, mas o lema é "da massa para as massas". Neste futuro tudo é padronizado. Todos vestem branco, todos têm a cabeça raspada, todos vivem de acordo das mesmas regras, tudo é igual, pasteurizado, homogêneo, branco, vazio. THX 1138 é uma pessoa triste. Ele questiona o resultado matemático de sua companheira, acha que ela não é boa pra ele. THX 1138 questiona a eficácia dos remédios.

THX 1138 é um filme sobre um futuro sórdido, vazio, esquematizado, controlado. É uma visão depressiva, mas não tanto fantasiosa. Assim como 1984 não é. O medo do terror fez muitas sociedades voltarem-se para o controle exagerado atualmente. Veja a dificuldade que é hoje para viajar de avião. Estamos numa sociedade que não é controlada contra sua vontade, mas controlada por demanda popular. Depois do 11 de setembro a vasta maioria clamou por segurança. Além disso, os poderosos souberam usar muito bem o medo como plataforma de manterem-se no poder. THX 1138 é uma visão plausível de um futuro que pode ser nosso. No filme, essa padronização e excesso de segurança dura já tanto tempo, que as pessoas pararam de questionar, simplesmente tornaram-se submissos. Mas claro, não podemos generalizar e pensar que toda a humanidade aceitaria essa imposição. Assim como na vida real nada é unânime, no filme também não é. THX 1138 resolve fugir.

Para um primeiro filme, George Lucas o dirigiu magistralmente. Belas tomadas, ângulos, belos cenários e um roteiro muito interessante.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Lanterninhas # 03: A arte de uma interpretação


Um bom filme é aquele que prende a atenção do espectador. E isso se alcança não somente com um bom roteiro. Aliás, nem sempre a trama faz com que a pessoa se sinta fisgada pelo enredo do longa-metragem. Em alguns casos, existem filmes que só se tornam clássicos por conta das atuações realizadas pelos seus protagonistas.

O roteiro pode não ser tão ruim assim, mas também pode não ser dos melhores. Todavia, ver um ator ou uma atriz transformar um simples personagem em uma figura emblemática, a ponto de ficar marcado na história, elimina qualquer possibilidade de suscitar hipóteses negativas sobre a trama assistida.

O filme em destaque é um bom exemplo. Possui um enredo interessante, transformando-se em uma boa diversão para todos os que gostam de suspense e terror. Trata-se de Louca Obsessão (Misery-EUA-1990), com a direção de Rob Reiner - responsável pelo recente Antes de Partir - e com ótima atuação de James Caan (o intérprete de Sonny Corleone em O Poderoso Chefão). Mas quem literalmente rouba a cena, e acaba sendo o principal destaque, é Kathy Bates.

Paul Sheldon – personagem vivido por Caan – é um famoso escritor de best-sellers. Responsável pelos livros chamados Misery (nome original do filme), sucesso de vendas nos Estados Unidos, Sheldon se isola em uma casa longe da cidade grande, a fim de escrever mais uma obra. Com o livro terminado, o escritor resolve mostrar à sua agente, porém, no caminho à editora, Sheldon não escapa de uma forte nevasca e sofre um grave acidente de carro.

A pessoa que o socorre é Annie Wilkens (Kathy Bates). Ex-enfermeira, Annie não só o tira do carro, como o acolhe em sua residência, passando a cuidar diretamente da saúde de Sheldon. A personagem de Kathy Bates é apaixonada pela série Misery, e se apresenta ao escritor dizendo “eu sou sua fã número 1”. Mas a aparição de Annie, que deveria ser uma salvação, acaba se tornando um pesadelo para Sheldon.

Com o passar dos dias, Annie vai demonstrando um comportamento esquisito, à medida que termina de ler um capítulo do novo livro de Sheldon a ser lançado. O escritor, preso a uma cama, impossibilitado de se locomover por conta dos graves ferimentos em sua perna, fica refém da ex-enfermeira, que se mostra uma psicopata. Além disso, Sheldon terá que reescrever o seu livro, de acordo com o gosto de Annie.

Kathy Bates está extraordinária no papel de Annie Wilkens. Sua atuação antológica faz com que o espectador sofra e tenha medo junto com o personagem de Caan. A atriz consegue captar o sadismo e a cólera que uma pessoa possa sentir por outro ser humano. Ela consegue passar de um estado calmo para o agitado de forma muito natural, tornando a sua atuação impecável. Suas expressões são fantásticas.

Ver também o escritor Sheldon sem qualquer poder de reação deixa o filme mais empolgante. Ele está em um beco sem saída, onde realizar as necessidades da psicopata é a única forma de escapar do inferno que é a casa de Annie Wilkens. A cena em que a ex-enfermeira aplica uma espécie de punição a Sheldon, com uma marreta, é assustadora.

Louca Obsessão é um filme baseado na obra de um dos mestres do terror, Stephen King. O roteiro é de William Goldman, responsável por Todos os Homens do Presidente, e o elenco conta também com a participação especial de Lauren Bacall. O filme é facilmente associado ao gênio Alfred Hitchcock, uma vez que as cenas de suspense têm claras inspirações em filmes do mestre do suspense.

Com uma atuação de gala, o Oscar de melhor atriz de 1990 só poderia ter sido dado a Kathy Bates. A atriz personifica, em Louca Obsessão, a loucura e o ódio de um ser humano. Por acaso, ou não, Bates construía ali uma espécie de prenúncio para o que viria no ano seguinte. Em um ano, o cinema mundial ganhou Annie Wilkens, e depois, Hannibal Lecter, para a nossa alegria, ou agonia.

domingo, 6 de junho de 2010

Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo (Prince of Persia: The Sands of Times)

Cor, luz, movimento, história e boas lembranças
Mais do que excelentes tomadas, edição de artes profissional, dando qualidade surreal às imagens. A reação final de um espectador é, com certeza, a tradução do sucesso de um filme. A Disney ainda tem essa capacidade, de não só conquistar, como, trazer à tona histórias e sonhos do ser humano. A mágica do cinema nas mãos da Disney ainda são atemporais.
O brilho nos olhos de meu pai enquanto contava sobre a época que jogava 'O príncipe da Pérsia', em sua primeira versão, quando não havia games de mão e, muito menos, desenho digital quase que real. Foi a resposta final das duas horas de areia soprada na obra "Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo" (Prince of Persia: The Sands of Time).

O filme estruturado de maneira inteligente. Possui, como já dito, uma qualidade gráfica impressionante. A fotografia pode ser traduzida como obra de arte. O movimento da câmera que dá uma ação mais real e ágil, tirando o fôlego daquele que acompanha a briga. O enredo, brilhantemente desenvolvido, nos faz acreditar que primeiro surgiu a história e, não, que veio dos games da década de 80. Apesar, das idas e vindas, causadas pela areia, nada ficou sem sentido. Nenhum fio solto. Nem mesmo a postura do príncipe Dastan (Jake Gyllenhall), assim como o seu modo de lutar e habilidades em saltos. (O príncipe deve ter aprendido muito com os esportistas de parkour).

Como todo filme Disney que se preze, lições sobre a importância de ter uma família. A fidelidade com amigos. A riqueza não é o que compra a felicidade e, se permitir que te domine, será sua destruição. Risadas pontuais são reservadas para a plateia, assim como, a sensação da torcida e os 'uuuuhhhh' nos pulos de Dastan.

Em meio a tanta invenção de efeitos especiais e, corrida contra o tempo para conquistar bilheterias através dos óculos 3D, é bom ver que ainda há bom senso e equilíbrio. Pois, assistir filmes sem história, de óculos para ver efeitos especiais, já estava ficando irritante e chato.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Homem de Ferro 2

Alguém aceita um Donuts?!

Corri semana passada para assistir 'Homem de Ferro', isso porque sabia da estreia de 'Homem de Ferro 2'. Confesso que na madrugada achava que não ia dar muito certo e, acabaria dormindo, mas, não foi o que aconteceu.

Tony Stark, brilhantemente representado por Robert Downey Jr., me conquistou. Seu narcisismo, carência e senso de humor são intensos. As descobertas e a crítica com relação ao comportamento dos governos ante as guerras fazem deste homem vermelho-dourado um ser à parte.

Logo, a madrugada passou rápido. Dormi satisfeita e curiosa para saber o que seria de Stark após a revelação de ser, ele mesmo, o homem de ferro. Como lidaria com essa realidade?! Afinal de contas, os demais super-heróis escondem suas identidades.

Homem de Ferro 2 não decepciona. Mantém a forte identidade apresentada no primeiro filme, e, de quebra, adiciona introdução aos demais heróis que logo logo estarão nas telas de cinema. A sensação é que estão tentando reaproximar os heróis dos quadrinhos ao público, ou, conquistar mais público.

A crítica as atitudes governamentais com relação aos produtos bélicos se fortalece. Apesar do grande ego de Tony, os personagens de Gwyneth Paltrow, Samuel L.Jackson e Scarlett Johansson conseguem mostrar que possuem grande importância no enredo. Mesmo com postura de o 'maioral' o Homem de Ferro não seria nada sem eles. Apenas, senti falta do sargento Rhodey, já tinha aceitado ele na pele de Terrence Howard...mas, fazer o que, nem tudo são flores em continuações.

Intensas lutas, bela fotografia, trilha sonora significativamente importante para a construção das cenas. Um herói de cara limpa, medroso e confuso. Só fica difícil saber se Downey Jr. foi perfeito para Tony Stark ou, se Tony Stark foi perfeito para Downey Jr.


Trailer - Homem de Ferro 2 (IRO MAN 2)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Alice no País das Maravilhas

Todo filme muito divulgado causa ansiedade, curiosidade, etc etc. O lado positivo é o número elevado da bilheteria, porém, o negativo são pessoas decepcionadas devido a alta expectativa criada. Com o tempo aprendemos: não crie tantas expectativas. Mesmo que a publicidade force a barra, é melhor não esperar muito, assim, fica mais fácil ser surpreendido.

Alice mau nasceu para o século XXI e todos já comentavam sobre a garotinha que de tão curiosa descobriu um novo mundo. Queriam saber se ela e seu mundo continuariam tão fascinante mesmo com tanta tecnologia envolvida. Com isso, não é raro ler críticas negativas ao filme.

Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland -2010) é um capricho do excêntrico
Tim Burton com seus atores, tão excêntricos quanto, Johnny Depp (o Chapeleiro Maluco) e Helena Bohnam Carter (a princesa Vermelha). Com pitadas do respeitado mundo de conto de fadas Walt Disney. Não é para menos que o filme se torna uma fascinante história sobre os sonhos malucos que temos no decorrer de nossas vidas. Ok, para muitos a tristeza em ver ausências pontuais de Lewis Carroll, entretanto, não podemos negar que a brincadeira em 3D deu um tom todo especial.

Filme de entretenimento, excelente para as telas gigantes do cinema e, mais ainda para a vibração dos óculos 3D. Se você ainda não entendeu o que são esses óculos, sente nas primeiras fileiras, o efeito é mais interessante do que do meio para o fundo da sala. Laterais, nem pensar!!!

A qualidade gráfica é de arrepiar. Suas cores, movimentação da câmera. Atenção as cenas que podem ser únicas, como a guerra no tabuleiro de xadrez. Saudosa para os jogadores das peças brancas e pretas. O gato sorridente de Alice, ganha um aspecto singular, além de certa beleza macabra, afinal de contas, qual o gato que podemos confiar?!

Alice é Alice. Sua loucura vista como sinal de ser uma boa garota. Apresenta a porta fantástica para o mundo contemporâneo, lembrando que nossas fantasias mais primitivas, os sonhos, ainda são as que mais fascinam e libertam nossa criatividade.


Trailer:

domingo, 25 de abril de 2010

Lanterninhas # 02: A cor do som

Quando lançou o filme Faça a Coisa Certa, em 1989, o diretor Spike Lee escancarou o racismo e o preconceito da sociedade norte-americana. Negros, brancos, e estrangeiros, todos foram caracterizados da forma como sempre agiram: de serem intolerantes com o próximo. No ano seguinte ao lançamento do, talvez, melhor filme de sua carreira, Spike Lee realizou o ótimo e surpreendente Mais e Melhores Blues (Mo’ Better Blues), tendo à frente do elenco um Denzel Washington em início de carreira.

O filme retrata a vida de Bleek Gilliam, líder de uma banda de jazz, interpretado por Washington. Na sua infância, foi forçado pela mãe exigente a aprender a tocar trompete. Sem ter como brincar com os amigos, Bleek vê em seu instrumento o único brinquedo com o qual pode se divertir. Ao contrário da mãe, seu pai é mais tranquilo, desenvolvendo assim um laço de amizade que irá perdurar ao longo dos tempos.

Já adulto, Bleek tornar-se líder de uma banda de jazz, e passa a chamar a atenção do público de uma casa de shows no bairro do Brooklyn, em Nova York. Em meio a esse sucesso, ele deve lidar com as fanfarras de seu amigo e empresário da banda(interpretado por Spike Lee), que é viciado em apostas de beisebol, o que o leva a dever muito dinheiro para a máfia dos apostadores. Além disso, Bleek é trapaceado pelos donos da casa de shows, que não querem aumentar o cachê da banda, mesmo com o estrondoso sucesso.

Mas o tema central do filme é como o personagem de Washington consegue ser um brilhante músico e, ao mesmo tempo, péssimo para relacionamentos. Faz com seu parceiro de banda e amigo de longa data, interpretado por Wesley Snipes, uma espécie de inimigos íntimos: ambos são talentosos e parecem grandes demais para caberem em uma mesma banda. E o que mais chama a atenção é como Bleek não consegue se relacionar com as mulheres do filme: tanto com a sua mãe, na infância, como com as suas duas amantes. E isso acaba interferindo no rendimento dele.

Mais e Melhore Blues também trata de racismo em algumas partes do filme, mas o importante do longa é saber como uma pessoa pode conhecer o sucesso e o fracasso em um espaço curto de tempo. A trilha sonora, liderada pelo mestre John Coltrane, dá o tom certo para este filme que mescla momentos de drama, de romance, e de comédia. Excelentes músicas para um ótimo filme.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A Leste de Bucareste


Nicolae Ceausescu liderou, de 1965 a 1989, a Romênia com uma ditadura de esquerda com aval da União Soviética. Em 17 de dezembro de 1989, manifestantes contra a ditadura foram recebidos com tiros nas ruas da da cidade Timisoara. A reação popular ocorreu em diversas cidades e, cinco dias depois, quando a revolta chegou à capital Bucareste, em 22 de dezembro, Nicolae Ceausescu deixou o poder e foi executado.

A fost sau n-a fost? - Para quem souber romeno. Por aqui, o filme chegou com o nome "A leste de Bucareste". Essa comédia romena, do estreante roteirista e diretor, Corneliu Porumboiu, é pautada numa questão historigráfica. O filme se passa numa cidadezinha a leste de Bucareste e, no aniversário de 16 anos da Revolução que derrubou Ceausescu, um programa de entrevistas de uma rede local faz um programa especial tentando responder a pergunta: nossa cidade participou da revolução? A rede nacional romena televisionou a queda de Ceausescu às 12h08 e, se não havia ninguém na praça da cidade protestando antes deste horário, a cidade não participou. E é aí que começa a comédia. O apresentador do programa Jderescu (que também é o dono da emissora) convida 2 pessoas que dizem ter participado da Revolução na cidade, Manescu, professor de história alcoólatra e Piscoci, um velho aposentado que está preocupado com a roupa de Papai Noel que vai usar no natal.
O filme se mostra bem descompromissado, talvez, até capenga. Capenga como tudo é mostrado no filme. Manescu é um professor capenga, Piscoci é um velho capenga, a casa de Manescu é capenga, o café da manhã que ele toma é capenga, a roupa de Papai Noel de Piscoci é capenga, e acima de tudo, a emissora de TV de Jderescu é capenga.
A primeira metade do filme mostra as personagens, Manescu enchendo a cara, indo para a escola dar aula, dando calote no bar. Piscoci indo até uma loja de fantasias tentar encontrar uma roupa de Papai Noel. Jderescu tentando encontrar pessoas para entrevistar para seu programa, e, para mostrar o quão capenga é, Jderescu vai buscar os entrevistados de carro - diga-se, um carro bem capenga.
Piscoci, Jderescu e Manescu.

É nessa apresentação que vemos que a questão do programa não é bem uma tentativa de colocar a pequena cidade no mapa, mas mostra mais uma questão de identidade social. 16 anos depois da queda do Socialismo e a vinda do capitalismo, a cidade ainda está capenga como na época socialista, parece que não houve uma vontade de erguer a cidade, de mudar, de evoluir, a cidade estagnou. Talvez Jderescu tenha feito este programa para tentar mudar o pensamento dos cidadãos, mas no decorrer do programa - aonde está o humor fino do filme - o tiro sai pela culatra.
Porumbiu foi premiado com um Camera D'Or em Cannes, em 2006.

sábado, 27 de março de 2010

Obsessão Fatal

Imitar uma celebridade ou algum personagem famoso é muito comum. Por exemplo, fãs de Elvis Presley se reúnem anualmente em Las Vegas para um concurso, ou vemos imitadores da Madonna em programas de auditório volta e meia. Tem imitador que faz dessa prática seu ganha-pão. O problema é quando essa adoração se torna perigosa, ao ponto de fazer uma pessoa exceder os limites.

Pois este é o tema do surpreendente Tony Manero, uma produção chilena comandada pelo diretor Pablo Larrain, e que traz uma interpretação antológica de Alfredo Castro, também autor do roteiro do filme junto com Larrain.

A trama se passa em 1978, em plena ditadura chilena do Gen. Augusto Pinochet. O ano também marca o lançamento do filme Os Embalos de Sábado à Noite, no qual o ator John Travolta imortalizou um ícone do cinema que marcou toda uma gereção, referência esta para o nome e a trama do filme.

O Tony Manero chileno chama-se Raúl Peralta, homem de meia-idade, tendo como curiosidade o fato de manter como profissão o entretenimento, ou, "isto aqui", como ele mesmo define quando está em um programa de televisão diante do apresentador. Mas ao mesmo tempo que nutre essa fascinação pelo personagem de Travolta, Raúl é um sociopata,tornando-se um assassino em série com o passar da trama.

Seu principal objetivo é ser Tony Manero, e vencer o concurso do principal programa de auditório do Chile. Ao mesmo tempo, prepara-se para fazer uma apresentação caseira de um número musical do filme, a fim de levantar fundos para o seu sustento e das pessoas com que mora e que fazem parte do elenco da peça de bairro. E ainda driblar a força dos militares que suspeitam de qualquer movimento nas ruas.

O filme é forte. Mescla cenas de violência com situções que podem até parecer engraçadas. Não estranhe se, por um momento, depois de tudo que Raúl faz ao longo da trama, você se pegar torcendo por ele. A intensidade de Raúl pelo ícone Manero é algo cativante. Acabamos, por uns instantes, não nos importando com que ele seja um psicopata.

Além das belas interpretações, o filme prova que é possível fazer uma produção de extrema competência com um baixo orçamento. Tony Manero é tenso, frio, mas ver até que ponto vai a obsessão de uma pessoa ou por uma ideologia ou por um personagem, pode ser, ao mesmo tempo, assustador quanto fantástico.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Lanterninhas # 01: Os enviados de Deus

Para você que gosta de velharias, veio à sessão certa. Estamos estreando a coluna Lanterninhas, referência esta a um dos ícones de gerações outroras, quando seus pais, ou avós, iam ao cinema e não podiam namorar em paz porque tinha um pentelho com uma lanterna tentando manter a ordem no recinto. Sempre que encontrar esse nome no título, acostume-se: é sobre filmes antigos que falaremos. E fiquem sabendo, tanto vocês leitores, como os outros colaboradores do blog, que eu, o rei da comédia, estipulei que aqui, só entrará filmes de 1995 para trás!

E a jornada começa com o filme Não Somos Anjos (We're no Angels), realizado no ano de 1989, tendo o bom Neil Jordan, responsável por Traídos Pelo Desejo e Entrevista com o Vampiro na direção, e conta com um ótimo elenco que tem Robert De Niro, Sean Penn, Demi Moore e o competente John C. Reilly ainda em começo de carreira.

O filme se passa no ano de 1935. De Niro e Penn são presidiários em uma pequena cidade dos Estados Unidos, proxima à fronteira com o Canadá. Eles são convocados para testemunhar a execução de um condenado à pena de morte dentro da própria penitenciária. Quando o futuro executado escapa da morte iminente e consegue a sua fuga, leva consigo a dupla, que veem a oportunidade de escaparem da cadeia junto com o rebelado.

Ao fugirem da prisão, De Niro e Penn são confundidos acidentalmente com dois padres famosos que estão a caminho da cidadezinha. A partir daí, os dois farsantes farão de tudo para conseguirem atravessar a fronteira e conquistarem a liberdade definitiva, passando-se por enviados de Deus. Mas uma sucessão de erros acaba adiando essas tentativas, o que deixa o filme, além de divertido, interessante.

Vale a pena conferir como Sean Penn começava a construir o seu caminho para se tornar um dos maiores atores da atualidade, vencendo dois prêmios Oscars de melhor ator, 15 anos após a atuação nesse filme. Já Robert De Niro era consagrado mundialmente quando protagonizou Não Somos Anjos, apenas colhendo os frutos por suas fantásticas performances como em Táxi Drive e no filme que lhe rendeu o Oscar de melhor ator, Touro Indomável, de 1980.

Demi Moore está belíssima -mais em beleza do que em atuação, é verdade- no papel de uma prostituta que tem uma filha surda e muda, fazendo De Niro ter a ideia de utilizar a criança para seu plano de fuga para cruzar a fronteira (e para chegar perto da mãe também). A questão religiosa está bastante presente neste longa-metragem, mostrando como a fé pode mobilizar uma população inteira, mexendo com as crenças e convicções de todos, em um tempo onde o poder da Igreja ainda era fortíssimo.

Existe um filme homônimo de 1955, que tem no elenco Humphrey Bogart e a direção de Michael Curtiz. A história tem também uma fuga de ladrões, mas apenas serviu de inspiração para o filme de 1989, ou seja, não se trata de uma refilmagem, e sim de possuir algumas referências do filme mais antigo. O longa-metragem de Neil Jordan é uma comédia leve, com situações engraçadas, sendo agradável para várias gerações. Não Somos Anjos, recomendável.



terça-feira, 16 de março de 2010

A salvadora do Oscar

O Oscar 2010 inovou em alguns aspectos. E repetiu erros de cerimônias anteriores, prática esta que o levou a um baixo grau de respeitabilidade perante o público ao longo dos últimos anos.Porém, entre pontos positivos e negativos, confirmou-se uma tendência da década: a Academia que comanda o Oscar mudou alguns conceitos e critérios para a escolha dos vencedores.

Prometi que se a mega-produção Avatar vencesse o prêmio de melhor filme, o título deste artigo seria "Guerra ao Oscar". Mas, felizmente, o vencedor foi o filme que retrata, com sensibilidade e muita pressão psicológica, os horrores que uma guerra pode acarretar. O arrasa-quarteirões que contava a história de seres azuis e que tem uma mensagem ecologicamente correta para todas as gerações é de fato um bom filme. Mas Guerra ao Terror, além de ter sido a salvação de Hollywood, é mais filme mesmo.

Mas o longa que trata sobre os desarmadores de bomba e o clima tenso no Iraque só venceu graças ao novo modo da Academia de premiar os melhores filmes do ano anterior. Tendência que, por coincidência ou não, iniciou-se após os atentados de 11 de Setembro de 2001. Antes das tragédias que acertaram os corações norte-americanos, um festival de injustiças tomava conta do Oscar, como não premiarem artistas como Peter Sellers e sua performance em Dr. Fantástico, Fernanda Montenegro por Central do Brasil, entre outros.

Foi só após os atentados que a Academia passou a enxergar o mundo de outra forma, e com isso, premiar ou com a estatueta, ou com indicações ao prêmio, aqueles que eram melhores de fato. Somente assim para explicar o porquê de Chicago em 2002 e Crash-No Limite em 2005, vencerem na principal categoria do Oscar, algo que dificilmente aconteceria na década de 1990 para trás, mesmo ambos os filmes serem muito bons. E é válido para atores e atrizes também.

Outra injustiça reparada na cerimônia deste ano foi o prêmio de direção a uma mulher: Kathryn Bigelow. Prêmio mais que merecido, uma vez que o seu jeito de conduzir a trama de Guerra ao Terror foi quase que impecável, aliando, a cada cena, adrenalina com um jogo psicológico assustador para o espectador. Mais que merecido o prêmio, vingando anos e anos onde só homens triunfaram.

Jeff Bridges finalmente venceu o Oscar de melhor ator, por sua atuação em Coração Louco. Já era tempo de um prêmio deste porte para um ator competente, que nos presenteou com boas atuações como em O Pescador de Ilusões e O Grande Lebowski ao longo dos anos. Sandra Bullock faturou a estatueta de melhor atriz por Um Sonho Possível. Interessante, pois é uma figura muito querida em Hollywood e também entre o público. Oscars de melhor ator e atriz coadjuvante, Christoph Waltz e Mo'Nique eram barbadas. Mais que merecido os prêmios a eles. Bem como a consagração de Up-Altas Aventuras na categoria animação.

Surpresas foram três: a ótima performance de Preciosa-Uma História de Esperança, que além de Mo'Nique, levou roteiro original, e o pífio desempenho de Avatar, que levou 3 prêmios, o mais importante o de fotografia. Mas a decepção do Oscar 2010 foi Amor sem Escalas, sem nenhuma estatueta na noite. E no placar dos adversários, Brasil zero, Argentina um: melhor filme estrangeiro para O Segredo do seus Olhos, do bom Juan José Campanella, porque foi um filme feito para o público em primeiro lugar, e não para tentar agradar a Academia, erro este cometido por produções brasileiras há anos.

O ponto alto da cerimônia foi a homenagem ao diretor John Hughes, que faleceu em 2009, e que tratou da adolescência como nenhum outro diretor na história. Responsável por novos clássicos como Curtindo a Vida Adoidado, Os Garotos Perdidos, e a comédia de maior sucesso em bilheteria de todos os tempos, Esqueceram de Mim, Hughes recebeu uma homenagem digna de sua competência. O ponto baixo foi o tratamento dado pela Academia à grande estrela Lauren Bacall, fazendo uma homenagem mais que justa, porém, não deixando-a discursar.

Steve Martin e Alec Baldwin saíram-se bem como mestre de cerimônias. A Academia cortou os números musicais, para o bem de quase todos os que acompanharam a cerimônia. Mas pecou ao alongar a apresentação dos indicados a atores e atrizes principais ou coadjuvantes. Desnecessário também foi a indicação de 10 filmes a melhor do ano, uma vez que a disputa polarizou-se entre Guerra ao Terror
e Avatar. Mas a tendência é que nas próximas cerimônias do Oscar o público volte a se interessar por ele. Parabéns a Katrhyn Bigelow e à sua guerra que salvou o cinema.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Ilha do Medo (Shutter Island, 2010)

Martin Scorsese e Leonardo DiCaprio chamam atenção quando aparecem juntos nos cartazes de cinema. Isso porque fizeram bons trabalhos em 'Guangues de Nova York', 'O Aviador' e 'Os Infiltrados'. Desta forma, se você tem acompanhado essa parceria, com certeza, desejará ver o mais recente Ilha do Medo (Shutter Island).

Inspirado no livro 'Paciente 67' (Dennis Lehane) a nova de Scorsese tem um pouco daquelas tentativas de transformar obras de Stephen King em obras cinematográficas de tirar o fôlego. Particularmente, acho que apenas 'O Iluminado' conseguiu a proeza. Livros de suspense não são muito simples para serem adaptados ao cinema. É preciso captar o timing correto. Caso contrário, tudo vai por água abaixo.

O filme começa bem. O cenário é fantástico assim como a trilha sonora escolhida. A tonalidade do verde com vermelho ocre, a sensação fria (trabalho das cores quentes e frias), solitária e o figurino da década de 50 avisam: se prepare, 'bons' momentos você vivenciará. Entretanto, a película é longa, e o mistério não consegue se manter nos minutos rodados.

O filme não chega a ser completamente ruim, mas, para os que aguardam uma obra de Scorsese, podem se decepcionar. Algumas tomadas de câmera são surpreendentes, porém, alguns erros de gravação e continuidade que não deveriam acontecer com um diretor tão renomado. Lembra do mistério?! Se você tiver um pouco de bagagem cinematográfica e memória, logo entenderá o que está acontecendo, então, o resto da metade do filme será chato.

Claro que se você deixou de assistir alguns filmes de suspense em sua vida, esse pode ser um filme que ficará na história. Ele até que é bem feito. E, muito espectadores se surpreenderam com o que estava acontecendo. Alguns deixaram claro 'meu, que filme doido'.

Difícil definir a Ilha do Medo, pois, na verdade, dependerá do que você está esperando e, para o quê está preparado. No meu caso. Ficou bem a desejar. Não gostei de ter sido tão longo e, realmente acredito que se fosse mais curto, talvez, sairia menos insatisfeita.

sábado, 6 de março de 2010

Lunar (Moon)


Talvez o nome Duncan Jones não lhe diga muita coisa, mas se dissermos que ele é filho de David Bowie (David Robert Jones, o nome verdadeiro), as coisas talvez fiquem mais interessantes. Mas Duncan Jones não seguiu os passos do pai músico, resolveu trabalhar com Cinema, e em 2009 lançou seu primeiro longa-metragem, Lunar (Moon).
Lunar é um filme de ficção científica, mas bem diferente do que se lançam atualmente. É um suspense psicológico. Na solidão do lado escuro da Lua, a 450.000 KM de distância da Terra, Sam Bell (interpretado por Sam Rockwell) ganha a vida coordenando a extração de hélio-3 da superfície da Lua para fins energéticos na Terra. Sam está na Lua, sozinho, há 3 anos, é o seu contrato com a empresa Lunar. Na verdade, Sam tem a companhia do computador/robô Gerty (dublado por Kevin Spacey), vemos aí, já, uma influência de Duncan - que também escreveu o roteiro -, de 2001: Uma Odisséia no Espaço. Sam não tem contato direto com a Terra, o satélite de comunicação está quebrado e a única forma de contato é via mensagens gravadas que sua esposa envia ocasionalmente. Sam trabalha, se exercita, rega plantas, constrói maquetes, joga pingue-pongue sozinho, tentando fazer o tempo passar, tentando não enlouquecer. Até que Sam sofre um acidente, sozinho, fora da base, no meio da Lua. Quando Sam acorda ele vê... Sam! E é aí que todo o suspense psicológico entra em ação, a árdua tarefa de Sam encarar Sam, e vice-versa. Aí vemos quão competente Sam Rockwell é, tendo que interpretar o mesmo personagem duas vezes, sendo que um está sempre reagindo ao outro que é ele mesmo. Você já pensou qual seria a sua reação a uma ação de um outro você?
O filme é belíssimo, com um belo cenário, incrivelmente simples, que te leva a lembrar de outros filmes scifi. Aliás, outra coisa incrível do filme foi seu orçamento: 5 milhões de dólares. As cenas externas da Lua, quando Sam sai num veículo lunar para inspecionar os extratores de hélio-3, são todas maquetes em menor escala, como se faziam nos antigos filmes scifi. Há muito pouco CGI no filme, a computação gráfica encarregou-se apenas de retocar as maquetes para ficarem incrivelmente realistas, e criarem Gerty.
Duncan Jones começou de forma magistral como diretor. O filme estreou em Sundance e ganhou oito prêmios em 2009.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Um Olhar do Paraíso

Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones, 2009) deixa uma dúvida se vale ou não ser assistido, quando assistimos ao comercial ou, pelo nome. Um daqueles filmes que o título original diz muito mais do que o em português.

Questões à parte. Um Olhar do Paraíso é interessante. Assim como sua propaganda, não é daqueles que podem ser definidos como 'ótimo' ou 'péssimo'. A história é contada em um formato diferente, já que sabemos que a garota está morta e quem é o seu assassino.

Logo, a dúvida: o que resta para contar de um assassinato onde já sabemos as questões principais?! Onde ficará o suspense?!

Pois bem, o suspense surge e, plausivelmente. Isto porque, apesar de já sabermos de 'tudo', é possível ficar na torcida e, atento ao que acontecerá com o doente que mata a garota peixe. Momentos de nervosismo. Mas, também existe os momentos 'zens', se é que posso dizer isso.

A fotografia é perfeita, com certeza mágica. Se a ideia era levar o espectador para outra realidade, ao mundo fantástico, saíram vitoriosos. Talvez, essas imagens sejam o motivo da escolha do título em português. Um surrealismo digno das telas de Salvador Dalí.

Staley Tucci (o assassino) está irreconhecível. Parece ser seu ano, como se tivesse decidido por grandes e marcantes atuações. Você sente nojo, tem raiva, e, não acredita que ele possa ser tão frio e calculista. Sua presença é com certeza significativa.

A outra grande participação neste filme, fica na pequena, porém grande em atuação, participação de Susan Sarandon. Sarandon é a Dna. Lynn, vó da garota assassinada. Impressionante observar como os diretores tem aprendido a trabalhar com atores mais experientes, tirando grandes momentos.

Vale a pena arriscar. Os pontos negativos?! Bem, algumas situações foram muito alongadas (uma história de amor aqui, outra cena ali) que deram uma certa queda na velocidade do filme e, o final, ah o final. Se tivessem terminado uns minutos antes do final que você verá, talvez, fosse mais interessante.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Estreia: Simplesmente Complicado

Merly Streep e Alec Baldwin estão de caso?!?

Nancy Meyers a cada direção ganha pontos de minha admiração. Tem a capacidade de escrever e dirigir boas histórias 'simples' e 'normais' para transformá-las em momentos mais do que agradavéis na poltrona de casa (ou cinema).

Assim foi com 'Do Que as Mulheres Gostam' (What Women Want), 'O Amor não Tira Férias' (The Holiday) e 'Alguém Tem Que Ceder' (Something's Gotta Give). Sendo o primeiro somente dirigido. Todos discutem relacionamento - homem e mulher, familiar, amizade - de maneira única. Não porque sai do comum, mas, pelo contrário, porque são mais realistas.

Entretanto, a realidade de Nancy é diferente, pois, consegue mostrar as várias graças da vida. Pense, quantas vezes não deu risada daquela situação que na hora não foi tão ilária?! A vida é assim mesmo, nos faz rir e chorar de uma mesma questão. Nancy ainda transforma a 'briga dos sexos' em uma briga mais elegante, inteligente e, incrivelmente divertida.

'Simplesmente Complicado' (It´s Complicated) segue a mesma linha. E, assim como em 'Alguém Tem Que Ceder' valoriza a vida dos mais adultos, mostrando, que não estamos envelhecendo e morrendo. Apenas, amadurecendo para viver mais e mais.


O seu marido, é meu ex e meu amante...

Meryl Streep ( a Jane) está, novamente, incrível em sua atuação. Entretanto, vale ressaltar que todos os personagens estão bem desenvolvidos. Desde o pentelho enteado, o genro até o arquiteto. De certa forma, o filme consegue valorizar todos os presentes neste enredo. O trio da ex-mulher (amante), amante (ex-marido) e arquiteto (novo namorado) rende boas gargalhadas.

Uma comédia romântica inteligente. Lida com vários assuntos polêmicos, em uma tacada só, sem perder o senso de humor. Também deixará aquelas que foram 'largadas pelas de 20' com a auto-estima nas alturas.

O caminhar, musicalmente bem acompanhado, mostra que é complicado, de fato, contudo pode ser divertido, surpreendente e único. O importante é continuar vivendo.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O Anticristo

Nietzsche anunciou, "Deus está morto". A era do Anticristo é agora. Sua visão niilista do mundo deixou muita gente atônita. Seu pessimismo, notável, perante a humanidade, traçou novos rumos na filosofia contemporânea. Mas isso foi no século XIX, há muito tempo e muita coisa mudou.

Hoje, Lars Von Trier anuncia, "Deus está morto". Lars matou Deus e arrastou todos para o inferno do Éden. "O Anticristo" de Lars não é uma obra que irá traçar novos rumos no cinema, mas com certeza pode-se dizer que é tão impactante quanto o livro de Nietzsche.

Não é um filme fácil, muito menos agradável, é tenso, pesado, chocante, mas, ainda sim, belíssimo. Já começa com um prólogo lindíssimo, em preto e branco, em câmera lenta, abarrotado de simbologias. A água caindo no rosto da esposa, a babá eletrônica no mudo, os três soldados de chumbo sobre a mesa, a garrafa de uísque sendo derramada, a janela se abrindo, o filho jogando os soldados de chumbo no chão, o ursinho amarrado no balão, etc. O prólogo te conta tudo.

Mas aí a coisa fica mais pesada. Lars te leva para o Éden, onde os humanos fazem o inferno, como dois anjos caídos tentando redimirem-se de seus erros. É a natureza do homem - e da mulher - carregar o inferno da existência. A dor, o sofrimento, e o luto, carregam o filme. A esposa, interpretada por Charlotte Gainsburg, passa por estes três estágios após a trágica morte de seu filho. Seu marido, interpretado por Willem Dafoe, um psicanalista, tenta tratar sua mulher e ajuda-la a passar por estes estágios. Para isso, eles vão para o Éden, uma floresta onde existe uma cabana onde a esposa passou um tempo estudando a natureza da mulher. E é para lá que ela volta, não para estudar a sua natureza, mas para vive-la. E aí o inferno reina.

Na tentativa frustrada de tentar ajudar a esposa, ele vê sua mulher transformando-se em algo que nega a natureza, toda a natureza, a dela, a dele, e a natureza em si. "A árvore apodrece lentamente", ela diz, como todos nós apodrecemos aos poucos até o inevitável fim. Ora ela ama, ora ela odeia, ora ela sorri, ora ela chora, ora ela expõe seu ódio. As imperfeições do humano estão todas lá, explícitas e chocantes. Fazer sexo para fugir da dor, fazer sexo para fugir do sofrimento, fazer sexo para fugir do luto, fazer sexo para fugir do sexo, o seu próprio sexo, deixar de ser mulher ou homem. As cenas com mutilações genitais chocam, mas ali mostra a vontade dela de não ser mais quem é, nem a vontade de ver seu marido ser quem é. Para ela, ele deixou de ser homem, e ela deixou de ser mulher. No Éden ninguém é homem ou mulher, como anjos, assexuados, anjos caídos, malditos, presos em corpos humanos, carregados de dor, sofrimento e luto.

Até que os três mendigos chegam. Diferente dos três Reis Magos que trazem presentes para o novo salvador, os três mendigos trazem a morte. Lembra-se dos três soldados de chumbo que o filho derruba no começo do filme? Cada soldado tinha um nome: Dor, Sofrimento e Luto. Os três mendigos trouxeram o presente para o filho: A morte inevitável. A morte enquanto os pais faziam sexo. O alfa e o ômega. O início (sexo) e o fim (morte). Essa é a imagem que Lars - um ateu - tem de Deus.

Um filme para poucos. Há muito romantismo na obra. Mas não é qualquer um que aguenta esse romantismo.

It's a bingo!

Existem alguns diretores que gostam de tentar mudar o mundo e fazer o espectador pensar. Tarantino não quer tentar salvar o mundo, mas te faz pensar sobre tudo o que você acabou de ver, experimentar, viver. Tarantino não te mostra nada novo, nem tenta reinventar a roda. Ele te dá tudo aquilo que você sempre quis, mas que você nem conseguia imaginar como ficaria. Uma explosão de clichês cinematográficos que, nas mãos dele, tornam-se uma obra-prima.

Tarantino é um maníaco por cinema. Bastardos Inglórios, acima de tudo, é um filme para cinéfilos, incrivelmente cinematográfico. Ele busca em Sergio Leone a inspiração para as cenas de conflito, a tensão e os ângulos, e até a trilha sonora (Ennio Morricone, eterno parceiro de Sergio Leone, participa da trilha sonora de Bastardos). Em Truffaut e Godard ele busca o estilo Nouvelle Vague para a personagem de Shosanna (interpretada por Mélanie Laurent) e seu cinema na Paris dos anos 40. De Hitchcock, o cigarro é apagado no apfelstrudel (referência a Ladrão de Casaca). Dos filmes de guerra saiu a inspiração para o nome da personagem de Brad Pitt, o Tenente Aldo Raine. É a mistura dos nomes de dois atores que ficaram famosos interpretando caras durões em filmes de guerra, Aldo Ray e John Wayne. De um filme italiano de Macaroni Combat, do diretor Enzo Castellari, o título (o italiano se chama Inglorious Bastards, enquanto o de Tarantino, Inglourious Basterds, com os erros mesmo). Tarantino explicou que fez essas “mudanças” para não pensarem que seu filme é uma refilmagem do italiano.

Dividindo o filme em capítulos (e aqui cabe dizer, respeitando a linearidade dos fatos, porque Tarantino sempre gostou de fazer seus filmes fora de ordem), como um livro, a história se desenvolve de forma tensa e marcante até chegar em seu clímax absurdo. A habilidade de Tarantino em apresentar as personagens de forma caricata ajuda no desenvolvimento da trama, pois logo de cara identificamos quem é quem no filme (o americano caipira, a francesa indiferente, os nazistas pomposos). E na apresentação da primeira personagem já deparamos com algo que Tarantino sabe fazer muito bem, os diálogos. Em Cães de Aluguel é discutida a música Like a Virgin de Madonna; em Pulp Fiction discutem o nome do “quarteirão com queijo” em outros países; em Kill Bill discutem sobre a verdadeira identidade do Super-Homem e que, na verdade, Clark Kent é o seu alter-ego; em Bastardos Inglórios é discutida a repulsa humana por ratos e a indiferença por esquilos, usando este argumento para justificar o ódio dos nazistas pelos judeus na concepção da personagem Hans Landa (interpretado por Christoph Waltz), o nazista que todo mundo odeia amar. Sim, Tarantino te faz amar um nazista.

A vingança é o que move Tarantino. A primeira coisa que vemos na tela, em Kill Bill, é o provérbio Klingon (Tarantino é nerd) “a vingança é um prato melhor servido frio”. Em Bastardos Inglórios a vingança é um absurdo. É uma vingança histórica fora da realidade humana. Tarantino tomou a liberdade de jogar para o alto a história da humanidade e fez o que todo mundo gostaria de ter feito na época: matar Hitler. Tarantino fez o que nenhum cineasta ousou fazer, tirou a estigma de coitados dos judeus e os transformou em frios vingadores, que saem pela França matando nazistas à pauladas, marcando os sobreviventes, como sofreram os judeus na verdadeira Segunda Guerra. E aí podemos dizer então, que sim, há algo de novo em Bastardos Inglórios, afinal. É o inesperado que Tarantino gosta de usar. E o inesperado aqui é muito mais forte porque, em um filme sobre a Segunda Guerra, ninguém espera que Hitler seja assassinado. E Hitler é morto por um bando de soldados americanos judeus que se fingem de italianos. O absurdo de Tarantino é sempre constante. Um filme que se passa na França, praticamente inteiro falado em francês e alemão, onde o nazista começa a falar inglês não para agradar o público americano que odeia legendas, mas porque os judeus escondidos na casa do fazendeiro não entendem inglês.

São as sutilezas que fazem o filme marcante. A forma como a vingança é feita, referência à forma como muitos judeus foram mortos nos campos de concentração. Shosanna se maquiando para a première, que é uma referência às mulheres judias que usavam pinturas de guerra nos rostos para lutar contra os soldados nazistas nos campos de concentração. Um velho decadente sentado ao piano, fumando e bebendo, uma referência ao Primeiro Ministro inglês Winston Churchill. A verdadeira Segunda Guerra pulsa na fantasia de Tarantino.

Pode não ser a obra-prima de Tarantino, mas não podemos deixar de falar que é um excelente filme. Depois desta orgia cinematográfica só conseguimos pensar numa frase que Tarantino disse certa vez, “eu adoro foder com os espectadores. Fazê-los pensarem em tudo o que viram”. Nos fodeu, mesmo.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O carro vermelho

É só mais um blog sobre cinema. Quem souber o porquê do nome, conta aí.