segunda-feira, 5 de julho de 2010

THX 1138


Em 1967 George Lucas se formou em Cinema na U.S.C. em Hollywood. Nesse mesmo ano ele apresentou num festival de curtas de estudantes seu primeiro curta-metragem, um sci-fi misterioso chamado "THX 1138". Naquele mesmo ano, um outro aluno de cinema - mas da UCLA -, um garoto barbudo, chamado Francis Ford Coppola, tinha a ideia de criar uma empresa para financiar seus filmes e filmes de outros jovens diretores, para saírem da mesmice de Hollywood. Aí, em parceria com George Lucas, fundaram a American Zoetrope. A American Zoetrope foi a primeira produtora de filmes fora do eixo de Hollywood, sua base era São Francisco. Dizem até, que Coppola foi o primeiro presidente de uma empresa a instalar uma máquina de cappuccino para os funcionários e colocar uma mesa de bilhar para recreação. Isso era 1968, imagine.

Pois enfim, em 1971 a American Zoetrope lança seu primeiro filme: THX 1138. Calma, lembre-se que George Lucas fez apenas um curta-metragem para a faculdade. Em 1971 ele lançou o longa-metragem. Vejam como eram as coisas naquela época: o primeiro filme de um ilustre desconhecido, produzido por Coppola e estrelado por Robert Duvall. Vá lá, naquela época Coppola ainda não era o que é hoje. Mas foi nessa mesma época que ele fez O Poderoso Chefão, e já tinha em mãos o roteiro de Apocalypse Now - que, pra quem não sabe, originalmente era um projeto da American Zoetrope para o George Lucas dirigir.

Mas voltemos a THX 1138. É um filme misterioso. O filme se passa não se sabe onde, nem em qual ano, só percebemos que é num futuro. Nenhum personagem tem nome, THX 1138 é o "nome" do personagem interpretado por Robert Duvall. THX 1138 trabalha numa linha de produção de andróides. A vida de todos nessa "base" é formada através de cálculos. Não há romance, há cálculos, é a matemática quem decide quem deve morar junto com você. Não há sexo desnecessário. Todos são controlados com remédios. O filme não detalha muito o regime, mas o lema é "da massa para as massas". Neste futuro tudo é padronizado. Todos vestem branco, todos têm a cabeça raspada, todos vivem de acordo das mesmas regras, tudo é igual, pasteurizado, homogêneo, branco, vazio. THX 1138 é uma pessoa triste. Ele questiona o resultado matemático de sua companheira, acha que ela não é boa pra ele. THX 1138 questiona a eficácia dos remédios.

THX 1138 é um filme sobre um futuro sórdido, vazio, esquematizado, controlado. É uma visão depressiva, mas não tanto fantasiosa. Assim como 1984 não é. O medo do terror fez muitas sociedades voltarem-se para o controle exagerado atualmente. Veja a dificuldade que é hoje para viajar de avião. Estamos numa sociedade que não é controlada contra sua vontade, mas controlada por demanda popular. Depois do 11 de setembro a vasta maioria clamou por segurança. Além disso, os poderosos souberam usar muito bem o medo como plataforma de manterem-se no poder. THX 1138 é uma visão plausível de um futuro que pode ser nosso. No filme, essa padronização e excesso de segurança dura já tanto tempo, que as pessoas pararam de questionar, simplesmente tornaram-se submissos. Mas claro, não podemos generalizar e pensar que toda a humanidade aceitaria essa imposição. Assim como na vida real nada é unânime, no filme também não é. THX 1138 resolve fugir.

Para um primeiro filme, George Lucas o dirigiu magistralmente. Belas tomadas, ângulos, belos cenários e um roteiro muito interessante.

Um comentário:

  1. O filme é sensacional, denso é verdade e isto pode assustar algumas pessoas, mas isto não tira a genialidade do filme.
    O que me fascina em ficções (falando aqui a grosso modo) é que pegam elementos atuais e os catalisam para um futuro, fazendo com que a nossa percepção fique mais aguçada.
    Nesta questão da segurança, milhares de ficções trazem isto, e realmente em especial depois de 11 de setembro uma série de coisas foram feitas. É terrivél pega rum avião e as cidades procuram cada vez mais colocar cameras pelas ruas, mas não analisam o quão eficiente ela é e que consequencias podem ter. Creio que poderiam investir em outros frontes e teriam resultados mais sólidos, mas a ideia geral de policia dando porrada, vigiando e punido é muito forte.
    Há também toda uma hipocrisia (digamos assim) nestas políticas de segurança, como por exemplo, na cidade onde moro, Blumenau, temos a maior oktoberfest das américas e blah blah blah. Tem um projeto de lei circulando pela camara municipal pretendendo proibir o consumo de alcool nas ruas e praças sob o pretexto de segurança, mas durante a oktoberfest (que aqui é uma festa da cerveja, muita cerveja e chopp) esta lei abriria exceção. Mesmo que durante este periodo a violencia aumente, devido ao lucro gerado pela festa, se ignora. É uma segurança de acordo com certas vontades... Algo muito complexo e profundo para discutir num comentário.
    Ps: procurei outros textos do filme, mas encontrei cópias da wikipédia, aqui não é uma cópia, muito bacana isso!!
    Abraços!

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