quinta-feira, 1 de julho de 2010

Lanterninhas # 03: A arte de uma interpretação


Um bom filme é aquele que prende a atenção do espectador. E isso se alcança não somente com um bom roteiro. Aliás, nem sempre a trama faz com que a pessoa se sinta fisgada pelo enredo do longa-metragem. Em alguns casos, existem filmes que só se tornam clássicos por conta das atuações realizadas pelos seus protagonistas.

O roteiro pode não ser tão ruim assim, mas também pode não ser dos melhores. Todavia, ver um ator ou uma atriz transformar um simples personagem em uma figura emblemática, a ponto de ficar marcado na história, elimina qualquer possibilidade de suscitar hipóteses negativas sobre a trama assistida.

O filme em destaque é um bom exemplo. Possui um enredo interessante, transformando-se em uma boa diversão para todos os que gostam de suspense e terror. Trata-se de Louca Obsessão (Misery-EUA-1990), com a direção de Rob Reiner - responsável pelo recente Antes de Partir - e com ótima atuação de James Caan (o intérprete de Sonny Corleone em O Poderoso Chefão). Mas quem literalmente rouba a cena, e acaba sendo o principal destaque, é Kathy Bates.

Paul Sheldon – personagem vivido por Caan – é um famoso escritor de best-sellers. Responsável pelos livros chamados Misery (nome original do filme), sucesso de vendas nos Estados Unidos, Sheldon se isola em uma casa longe da cidade grande, a fim de escrever mais uma obra. Com o livro terminado, o escritor resolve mostrar à sua agente, porém, no caminho à editora, Sheldon não escapa de uma forte nevasca e sofre um grave acidente de carro.

A pessoa que o socorre é Annie Wilkens (Kathy Bates). Ex-enfermeira, Annie não só o tira do carro, como o acolhe em sua residência, passando a cuidar diretamente da saúde de Sheldon. A personagem de Kathy Bates é apaixonada pela série Misery, e se apresenta ao escritor dizendo “eu sou sua fã número 1”. Mas a aparição de Annie, que deveria ser uma salvação, acaba se tornando um pesadelo para Sheldon.

Com o passar dos dias, Annie vai demonstrando um comportamento esquisito, à medida que termina de ler um capítulo do novo livro de Sheldon a ser lançado. O escritor, preso a uma cama, impossibilitado de se locomover por conta dos graves ferimentos em sua perna, fica refém da ex-enfermeira, que se mostra uma psicopata. Além disso, Sheldon terá que reescrever o seu livro, de acordo com o gosto de Annie.

Kathy Bates está extraordinária no papel de Annie Wilkens. Sua atuação antológica faz com que o espectador sofra e tenha medo junto com o personagem de Caan. A atriz consegue captar o sadismo e a cólera que uma pessoa possa sentir por outro ser humano. Ela consegue passar de um estado calmo para o agitado de forma muito natural, tornando a sua atuação impecável. Suas expressões são fantásticas.

Ver também o escritor Sheldon sem qualquer poder de reação deixa o filme mais empolgante. Ele está em um beco sem saída, onde realizar as necessidades da psicopata é a única forma de escapar do inferno que é a casa de Annie Wilkens. A cena em que a ex-enfermeira aplica uma espécie de punição a Sheldon, com uma marreta, é assustadora.

Louca Obsessão é um filme baseado na obra de um dos mestres do terror, Stephen King. O roteiro é de William Goldman, responsável por Todos os Homens do Presidente, e o elenco conta também com a participação especial de Lauren Bacall. O filme é facilmente associado ao gênio Alfred Hitchcock, uma vez que as cenas de suspense têm claras inspirações em filmes do mestre do suspense.

Com uma atuação de gala, o Oscar de melhor atriz de 1990 só poderia ter sido dado a Kathy Bates. A atriz personifica, em Louca Obsessão, a loucura e o ódio de um ser humano. Por acaso, ou não, Bates construía ali uma espécie de prenúncio para o que viria no ano seguinte. Em um ano, o cinema mundial ganhou Annie Wilkens, e depois, Hannibal Lecter, para a nossa alegria, ou agonia.

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