sexta-feira, 30 de julho de 2010

O olhar da sobrevivência

Uma homenagem à vida. Este é o ponto de partida de um dos melhores filmes dos anos 2000, o francês O Escafandro e a Borboleta. A princípio, quem lê o título e tenta o interpretar acaba pensando que se trata de algum romance envolvendo um casal apaixonado às margens do Rio Sena. Mas, pelo contrário, o filme é uma oportunidade das pessoas poderem repensar alguns conceitos de suas vidas, bem como começar a aproveitar cada momento que se tem para respirar.

O Escafandro e a Borboleta é baseado em uma história real. O editor da famosa revista Elle Jean-Dominique Bauby é um homem bem-sucedido, pai de 3 filhos, e que está em uma idade na qual a vida já lhe proporcionou diversas alegrias, mas ainda tem muito a aproveitar. Porém, em um passeio com um de seus filhos, Bauby é acometido por um Acidente Vascular Cerebral (AVC), o que o deixa paralítico da cabeça aos pés.

Mas esse derrame cerebral trouxe outro agravante para o editor, que acaba se tornando vítima de uma síndrome chamada locked in, deixando um único órgão de seu corpo em funcionalidade apenas: o seu olho esquerdo. A comunicação dele com o resto do mundo passa a ser esse olho, uma vez que Bauby está refém de seu próprio corpo. Ele entende tudo o que se passa a seu redor, todavia, só consegue se expressar através de piscadas, formando assim, sílabas, frases, e parágrafos.

Dessa forma, o editor consegue escrever um livro contando os relatos e impressões, tudo o que o editor sente na situação em que está. A partir do livro homônimo, o diretor do filme Julian Schnabel leva o espectador ao mundo do editor após o acidente, nos colocando dentro do olhar de Bauby. As cenas com a câmera subjetiva que Schnabel filma é extraordinária, mostrando toda a amargura e inoperância que o protagonista sente no exato momento em que sai do estado de coma em que ficara por conta do AVC até o momento das primeiras comunicações com o mundo externo.

Com essa visão, o mergulho em um mundo diferente do que se está acostumado é inevitável. Uma chance de poder sentir como vivem as pessoas com algum tipo de deficiência, sempre exaltando o quão importante é aproveitar as chances e oportunidades que a vida traz. O filme trata de um assunto delicado, mas sem ter um mínimo de pieguice; não cai no clichê dramático de outras produções, que visam mais as lágrimas das pessoas com corações sensíveis do que propriamente a reflexão que a causa exige.

Destaques para as atuações de Emmanuelle Seigner, Anne Consigny, do protagonista do longa-metragem Mathieu Amalrick, e do maravilhoso Max Von Sydow, que faz uma pequena participação como o pai de Bauby. O Escafandro e a Borboleta é um filme forte, mas imprescindível para os cinéfilos de plantão.

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